terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Melhores de 2012: Temple Beautiful


Chuck Prophet não é nenhum neófito. Sua carreira já conta com mais de dez discos e, pelo demonstrado em Temple Beautiful, o moço continua acelerando os motores.

Ouvi Prophet pela primeira vez em uma coletânea da revista inglesa Uncut, em que se homenageava o som dos Rolling Stones na década de 1970. Nada mais adequado. Prophet extrai o melhor do rock de garagem, do blues e do country que fizeram dos Stones uma verdadeira lenda.

Neste seu mais recente trabalho, Chuck faz uma homenagem despretensiosa à cidade de São Francisco, na Califórnia.

Como o próprio artista declarou, é um disco feito em São Francisco por “sanfranciscanos” sobre São Francisco.

Todas as faixas são excelentes, mas destaco a ótima canção-título (a respeito de um clube de punk rock que congregava vários músicos da Bay Área), Castro Halloween e White Night Big City, esta última uma referência aos assassinatos do ativista gay Harvey Milk e do prefeito George Moscone pelo vereador Dan White.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Melhores de 2012: Celebration Rock


Você sabe que está ficando velho quando começa a ouvir mais Phil Collins que The Clash.

Mas vez ou outra aparece uma porrada sonora que nos transporta imediatamente aos nossos 20 e poucos anos, quando barulho e raiva eram o que mais importava em uma banda.

O Japandroids é um duo formado na cidade de Vancouver, no Canadá, e Celebration Rock é seu segundo disco.

Pouca coisa mudou de 2009 para cá, quando lançaram Post Nothing. Cada canção dos integrantes Brian King e David Prowse – guitarra, bateria e vocais arrancados do fundo do peito – parece ter sido gravada como se fosse a última coisa feita antes do fim do mundo.

A ótima faixa de abertura, The Nights Of Wine And Roses, dá a tônica do disco: cheia de energia e intensidade, parece um trovão a anunciar a tempestade.

Não é som para quem gosta de bandinhas doces e sorridentes. O Japandroids faz punk rock hoje como se 1977 nunca houvesse acabado.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Melhores de 2012: My Head Is An Animal


Uma das mais inesperadas histórias de sucesso de 2012, a rápida ascensão do álbum My Head Is an Animal colocou em evidência a banda islandesa Of Monsters And Men, formada por seis integrantes e tendo à frente a vocalista Nanna Bryndis.

Embora numa primeira audição a gente ache o grupo perigosamente próximo do som do Arcade Fire (onde acaba a homenagem e começa a simples cópia?), aos poucos a beleza das composições vai ganhando força própria ao mesmo tempo em que as canções parecem hipnotizar. 

Recheado de alegorias, imagens surreais e delicadas orquestrações, My Head Is an animal é um disco para se amar ou odiar. Aparentemente, a primeira opção tem sido a mais escolhida.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Melhores de 2012: Celebration Day


Como tudo na história do Led Zeppelin, este último concerto reunindo os três membros originais mais o filho do grande John Bonhan, Jason, já virou mito. 

O grupo poderia ter seguido em frente e engrossado a fileira de bandas que vivem do grande circuito da nostalgia (que aumenta exponencialmente a conta bancária de bandas como Kiss, Rolling Stones e The Who), mas, graças à recusa de Robert Plant, restringiu sua tão esperada volta a um único show, realizado em dezembro de 2007, em Londres.

O pretexto era homenagear o falecido fundador da mítica gravadora Atlantic Records, Ahmet Artegun.

Certamente, para a platéia, isso era o que menos importava. Fico imaginando o delírio de se ouvir, após tantos anos de ausência, o melhor grupo de rock de todos os tempos tocando ao vivo seus grandes clássicos como se nunca tivesse parado de fazê-lo.

A química e a magia permanecem intactas. John Paul Jones e Jimmy Page são irretocáveis e Jason Bonhan honra dignamente a memória de seu pai (para mim e milhões de admiradores, o melhor baterista que já pisou neste mundo). Quanto a Robert Plant, é óbvio que sua voz não é a mesma de sua época áurea, mas ele não precisava se preocupar tanto. Vê-lo durante mais de duas horas levando canções eternas como Kashmir, Whole Lotta Love e Black Dog compensa qualquer falha que o tempo possa ter imprimido a suas cordas vocais. Um registro inestimável.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Melhores de 2012: A Thing Called Divine Fits


Uma das características do rock feito na última década é o intenso intercâmbio entre músicos. Isso gera uma produtividade altíssima e, entre erros e acertos, discos bastante interessantes. 

É o caso deste A Thing Called Divine Fits, do Divine Fits. O cerne do grupo é formado por Brit Daniel, vocalista e principal compositor do Spoon, e Dan Boeckner, que já esteve à frente do Hansome Furs e do Wolf Parade.

Juntos eles alternam vocais e a autoria das ótimas canções dessa estréia do duo. Perfeito para quem curte rock com uma pegada menos óbvia.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Melhores de 2012: Love This Giant


O Talking Heads foi uma das melhores bandas americanas surgidas no boom do pós-punk do final dos anos 1970. Gravaram discos históricos, flertaram com música africana, caribenha e brasileira, abriram os ouvidos de milhares de fãs para novas sonoridades e fizeram música vanguardista sem tirar o olho da pista de dança. 

Era de se esperar que, em sua carreira solo, o vocalista David Byrne levasse adiante essa busca pelo novo e o inesperado. O que aconteceu em parte.

Byrne continua um ávido pesquisador musical. O que mudou foi o mundo. Hoje em dia, nada mais é 100% novidade neste planeta interligado em que vivemos. O que não impede nosso aventureiro de buscar proximidade com artistas novos e instigantes. 

Love This Giant é fruto de uma colaboração de verdade. Das 12 canções do disco, 10 foram feitas por Byrne e Annie Clark, a artista por trás do nome St. Vincent, e as duas restantes são composições individuais. Curiosamente, o estilo de Clark é o que sobressai. Mas o mix de duas vozes muito particulares rende momentos inspiradíssimos.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Melhores de 2012: Locked Down


2012 foi um grande ano para os veteranos do rock: Dylan lançou mais um bom disco, Tempest, o sempre produtivo Neil Young adicionou mais dois trabalhos à sua longa discografia e a eterna musa do punk rock, Patti Smith, voltou com suas tradicionais saladas de poesia e rock em Banga.

Mas, para mim, o melhor do revival dos dinossauros foi o retorno do lendário Mac Rabennack, mais conhecido como Dr. John.

Ativo desde a década de 1950, Rabennack tem uma trajetória acidentada, porém pontuada por discos brilhantes – Gris Gris, de 1968, é frequentemente apontado como sua obra-prima – e por sua excelência como pianista. 

Nascido em New Orleans, o músico incorpora como poucos o caldeirão sonoro de sua cidade natal e passeia com desenvoltura por gêneros como funk, soul, jazz e rock.

Locked Down é produzido por Dan Auerback, guitarrista e vocalista do Black Keys, e faz jus ao rico passado musical de Rabennack, ao mesmo tempo em que explora novos territórios sonoros. Um disco que incorpora o novo e o tradicional de maneira preciosa.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Os Melhores de 2012: Boys And Girls

                
O grande trunfo deste grupo do Alabama é, sem dúvida, a voz privilegiada da cantora Brittany Howard.

Num ano pródigo em novas vozes femininas, Brittany se impôs com categoria e muito soul em interpretações que renderam comparações a Janis Joplin. Não é para tanto. Ela canta pra caramba, mas ainda falta a dose necessária de sofrimento que tornou Janis insubstituível.

De qualquer maneira, o disco de estréia do Alabama Shakes é uma delícia. O melhor está logo na abertura: Hold On é uma daquelas músicas que grudam imediatamente no ouvido, uma amostra do talento do grupo para deglutir as tradições musicais do sul dos Estados Unidos com alma e paixão.

Na faixa-título, outro destaque, Brittany canta languidamente e prova que também pode ser sedutora. Longe de ser uma nova obra-prima do rock, Boys And Girls se impõe, no entanto, como um dos melhores debuts do ano.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Os Melhores de 2012: Fear Fun

Joshua Tillman vem lançando discos com J Tillman há alguns anos. Entre um trabalho e outro, ele tocou bateria em uma das bandas independentes mais badaladas da atualidade, o Fleet Foxes, e, sob a nova alcunha de Father John Misty, soltou este belíssimo Fear Fun

A verdade é que não importa com qual nome Tillman se apresenta. Somente sua voz já é motivo suficiente para ficar atento a qualquer movimento do rapaz.

Mas, pelo demonstrado em Fear Fun dá para ver que há muito mais que do que apenas uma boa voz para apreciar.

De 2009, quando lançou o bastante elogiado Vacilando Territory Blues, para cá, Tillman evoluiu significativamente como intérprete e compositor. Suas letras são o produto das experiências de um músico jovem em busca de uma voz própria. Há referências a drogas, relacionamentos desfeitos e mortes na família. Tudo costurado por um fino senso de humor, coisa cada vez mais rara de se encontrar no rock alternativo, um gênero que se leva excessivamente a sério.

É possível que Joshua retorne no ano que vem com um novo nome. Ou simplesmente volte para trás da bateria em outra banda qualquer. Tanto faz: Fear Fun já deixou sua marca e pode sem erro ser considerado um dos melhores discos dos últimos tempos.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Results

Acho bobagem se falar em arte gay. Ninguém ressalta a heterossexualidade quando vai falar de um disco, por exemplo, do Allman Brothers. 

Mas não há como negar a identificação entre determinados artistas e a comunidade gay (outro conceito muito aberto, eu sei).

Tome-se o caso de Liza Minnelli. Só por ser filha de Judy Garland, um ícone para gays americanos desde a década de 1940, Liza já teria o carinho e a simpatia de muita gente.

Mas ela fez seu próprio caminho artístico, brilhou nas telas e nos palcos da Broadway e gravou discos que se inscreveram para sempre no imaginário gay.

Results é um marco dos anos 1980 e apresentou Liza para uma geração de novos fãs. Produzido por Neil Tennant e Chris Lowe, mais conhecidos como Pet Shop Boys, o disco é um luxo só.

Musicalmente, é um produto típico do electropop da época (de bandas como Human League, Depeche Mode e os próprios Pet Shop Boys). O grande diferencial está realmente na voz aveludada e sensual de LM.

Ela dá novas cores para canções alheias – Twist In My Sobriety de Tanita Tikaran e Rent do Pet Shop –, traz a certeira dose de melodrama em Tonight Is Forever e I Want You Now e ainda perpetra dois clássicos para as pistas de dança, Losing My Mind e Love Pains

Tudo é realmente de primeira, mas a grande verdade é que qualquer canção vira um deleite nas mãos - ou cordas vocais – da diva de Cabaré.

 Uma pena que ela não tenha seguido em frente na parceria com músicos e admiradores mais jovens.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Anastasis

Após 16 anos de silêncio, o duo Dead Can Dance retorna com mais uma de suas viagens sonoras, o belo Anastasis – grego para ressurreição.

Quem gosta de Cocteau Twins vai encontrar no Dead Can Dance um primo distante, principalmente pelos vocais etéreos e misteriosos da cantora Lisa Gerrard. 

São apenas oito longas e exaustivamente trabalhadas canções. Parece pouco para justificar uma ausência tão grande.

Mas é um típico trabalho com a marca Dead Can Dance, ou seja, há elementos de música oriental, instrumentos exóticos, vocais que parecem saídos de um passado muito longínquo e um clima meio gótico perpassando todo o álbum.

 Não é para todos, isso é certo. Quem gosta, contudo, vai vibrar.




quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Document


Quando uma grande banda resolve se retirar, muita gente fica inconsolável. Eu, particularmente, acho uma arte para poucos saber o momento certo de dizer adeus. Melhor se aposentar com dignidade que cair no ridículo. 

Deve ter sido o que pensou o R.E.M. quando anunciou sua saída de cena no ano passado. Os últimos discos do grupo já não eram aquela beleza que um dia foram, mas eles nunca chegaram a pisar feio na bola.

 O melhor do R.E.M. se encontra na produção dos anos 80, quando gravaram pela independente I.R.S., mas há canções inesquecíveis em todos os trabalhos subseqüentes. 

Os discos a seguir são os meus cinco preferidos dessa grande banda americana.


1 – Document (1987): o disco que rompeu a barreira entre o underground e o grande público. Um clássico absoluto.


2 – Lifes Reach Pageant (1986): trabalho de transição, com o grupo aprimorando suas habilidades pop e preparando a grande invasão que viria a seguir.


3 – Automatic For The People (1992): só por ter Everybody Hurts este disco já merece lugar de destaque em qualquer coleção. Tão bom que o próprio grupo teria dificuldade em fazer novamente música com essa relevância.


4 – Green (1988): o primeiro disco lançado por uma grande gravadora, é um trabalho que casa as raízes folk e roqueiras do R.E.M. em grande estilo.


5 – Out Of Time (1991): é aqui que eles se tornaram realmente gigantes. Culpa de Losing My Religion, uma canção capaz de tocar em rádios alternativas e nas Antenas Um da vida. A melhor música, no entanto, é a fantástica Country Feedback, uma das preferidas do vocalista Michael Stipe.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Verdade Uma Ilusão

Gosto muito de Marisa Monte. Mas não pelos motivos pelos quais a maioria das pessoas gosta.

Não acho que ela seja uma “diva” e nem mesmo acho que ela pode ser equiparada às grandes vozes femininas de nossa música.

Para mim o grande encanto de Marisa está justamente em sua postura anti-diva e, sobretudo, em sua habilidade ímpar de fazer música popular sem ofender nossa já tão atacada sensibilidade. Principalmente depois que deixou de emular a Gal Costa da década de 1970, MM passou a fazer uma música romântica que milagrosamente escapa da breguice.

De certa forma, ela faz hoje o que Roberto Carlos fazia nos anos 70. É por isso que suas canções aparecem de forma tão confortável em trilhas sonoras de novelas e em rádios populares. Seu mais recente disco, O Que Você Quer Saber de Verdade, é o melhor exemplo disso.

Não à toa, muita gente achou que MM “embregou” de vez. Não à toa, duas das músicas enfeitaram cenas românticas em folhetins globais. E não à toa, também, o disco faz muito sucesso em meu cd player.

O show que o divulga é supimpa, uma beleza não apenas musical, mas um espetáculo visual belíssimo, em que projeções iluminam cada canção e que, com certeza, deve render um DVD num futuro próximo.

Se esse é o caminho que Marisa seguirá, é difícil prever. Depois de tribalismos, sambas e divinas cafonices, só dá para dizer que essa mulher é um presente dos céus.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Horses
 
Há 30 anos, a Sony colocava no mercado os primeiros CDs para venda direta ao consumidor. O objeto de plástico brilhante foi alvo ao longo desses trinta anos de furiosas reações por parte de puristas, mas acabou se estabelecendo como a mídia principal de comercialização de música. Em seu período áureo, o CD chegou à assustadora soma de quase um bilhão de unidades vendidas em todo o mundo.

Comprei meu primeiro CD player em 1994 e me lembro até hoje da minha primeira aquisição. Existia aqui em Brasília uma rede de lojas chamada Cash Box e uma delas ficava bem próxima do meu trabalho.

Foi lá que comprei Horses, da Patti Smith,  Dirty, do Sonic Youth, Kiss This, do Sex Pistols e Us, do Peter Gabriel, todos no mesmo dia. O preço do CD ainda era relativamente alto e os discos de vinil ainda eram produzidos regularmente. Em pouco menos de um ano, eles, literalmente, desapareceriam das prateleiras e o CD passaria a ser a única opção para se ouvir música nova (pelo menos aqui no Brasil. Na Europa e nos Estados Unidos a produção de vinil nunca foi totalmente abandonada).

É curioso observar que, nestes trinta anos, o CD cumpriu um ciclo rápido de apogeu e decadência. É curioso pensar também que o vinil, que muitos deram por morto e enterrado, seja hoje visto como a única possível salvação para colecionadores e aficionados. O futuro é incerto, sem dúvida. Não vejo, entretanto, como desaparecer por completo o meio físico. Sempre existirá gente que necessita do objeto, do contato físico com a obra. É a mesma sombra que paira sobre o livro de papel, gradativamente substituído por leitores digitais cada vez mais sofisticados.


O fato é que aqueles quatro discos que inauguram minha coleção de bolachinhas prateadas continuam passando, vez ou outra, pelo meu aparelho de som. Acho o mesmo difícil para quem adquire ou baixa um disco digitalmente. Fico pensando até se essas pessoas se lembram do que ouviram no dia anterior.

Algiers

É incrível que uma banda tão interessante quanto o Calexico tenha tão pouco reconhecimento. Já são mais de 20 anos de carreira e nenhum disco ruim. 

O mais recente, Algiers, honra o nome do grupo, embora não acrescente nada de rigorosamente novo a seu caldeirão sonoro. Ainda bem. 

O Calexico (o nome vem de uma cidadezinha na fronteira dos Estados Unidos com o México) segue fazendo o que sabe: indie rock com um toque de música latina, alguns experimentos com gêneros alheios ao universo da música pop – fado, canção francesa, jazz, entre outros - e a sutil melancolia das composições de Joe Burns e Joey Convertino.




terça-feira, 13 de novembro de 2012

Coexist

Tenho certa dificuldade em entender o barulho em torno de algumas bandas novas. Pegue-se, por exemplo, o The XX, trio formado em 2008 na cidade de Londres. O primeiro trabalho, lançado em 2009, figurou em várias listas de melhores do ano e revelou para o mundo três jovens tímidos e levemente misteriosos. 

Agora, já mais acostumados com o novo status de celebridades, o trio retorna com Coexist.

Musicalmente, pouco mudou. Os vocalistas Romy Madley Croft e Oliver Sim dificilmente podem ser chamados de cantores. Eles murmuram suas letras como se estivessem permanentemente dopados. Os arranjos permanecem esparsos, quase inexistentes (o chique é dizer que isso é minimalista). O tédio percorre o disco do início ao fim. 

Na verdade, deve ser isso que traz tamanho encanto. Numa época de tanta exposição e exagero público, a postura reservada e distante do XX chama a atenção. Nesse aspecto, eu até que simpatizo com eles. Mas gostar de sua música, já é outra história...




segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Teenage Head

É difícil entender porque alguns discos passam completamente em branco pela história da música pop.

É o caso de Teenage Head da banda americana Flamin’ Groovies. Lançado originalmente em 1971, o disco pode ser comparado facilmente aos melhores momentos dos Stones ou do Dr. Feelgood. A fonte de onde todos bebem é o blues elétrico de gigantes como Muddy Waters e Howlin Wolf.

Em Teenage Head nenhum segundo é desperdiçado. Os Groovies vão direto ao ponto em rocks sensacionais como Have You Seen My Baby e High Flying Baby, mas são craques também em baladas matadoras como Yesterday Numbers e Whiskey Woman

Para quem é fã de blues rock com muita sujeira e energia, este é um disco simplesmente imprescindível.




domingo, 11 de novembro de 2012

The Lion's Roar

As irmãs Johanna e Klara são suecas, mas pelo que mostram em seu segundo disco, The Lion’s Roar, é como se tivessem nascido e se criado no interior dos Estados Unidos.

Com o primeiro disco, lançado em 2010, as garotas chamaram a atenção não apenas da crítica especializada, como também de importantes músicos contemporâneos.

The Lion’s Roar é produzido por Mike Mogis – famoso por seus trabalhos com o Bright Eyes e Monsters Of Folk –, que explora com habilidade a capacidade das irmãs de criarem belas melodias.

 O clima é pastoral e nos remete imediatamente ao country rock de Emmylou Harris, Gene Clark e The Byrds.

Ainda falta ao First Aid Kit encontrar sua verdadeira personalidade, mas, enquanto isso, elas vão encantando com sua doce musicalidade.




sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Purple Rain

Quando Purple Rain, o filme, foi lançado em 1984 eu tinha entre 13 e 14 anos e não o vi no cinema. Mas não fiquei imune ao que se poderia chamar de princemania.

Aquele ano foi inteiramente de Prince, que viu sua estreia no cinema render horrores enquanto a trilha sonora homônima vendia como água.

Acabei assistindo o filme na televisão aberta, com cortes, dublagem, propagandas e tudo mais. Detestei, obviamente.

Recentemente, revi Purple Rain num dos canais HBO sem saber direito o que esperar, afinal a memória nos prega muitas peças. Confesso que, como num filme da Boca do Lixo, achei tudo tão ruim que acabei gostando.

Figurino, maquiagem, penteados, atuações, tudo é tão absurdo que se torna impagável. A estrela Prince passa todo o tempo com cara de vítima enquanto um desfile de figuras inacreditáveis entregam performances surreais de tão horríveis.

O filme só engrena mesmo nas cenas de palco. Purple Rain, o disco, é uma das obras-primas do gênio de Minneapolis e, embora a historinha que elas contam seja meia-boca total, o desempenho do baixinho e sua banda da época, a Revolution, é de deixar qualquer um de queixo caído.

Na sequência Prince gravaria uma das músicas do século, Kiss, além de mais três discos impecáveis: Sign' O The Times, Lovesex e Diamonds And Pearls.

Depois, ele pirou na batatinha, brigou com a gravadora, trocou o nome por um símbolo e seguiu gravando discos cada vez mais fraquinhos. Mas isso já é outra história.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Tomorrow The Green Grass

O Jayhawks é uma banda que sempre nadou contra a corrente.

Em pleno anos 1990, quando as guitarras sujas do Nirvana e do Pearl Jam dominavam as paradas, o grupo de Mark Olson e Gary Louris preferiu fazer um rock mais tradicional, recuperando boa parte da herança rural da música americana e entregando ao público discos primorosos que, anos depois, influenciariam numerosos novos artistas.

Tomorrow The Green Grass é, para mim, o melhor disco que eles gravaram. É também um dos meus discos preferidos, daqueles que ouço sempre com um prazer renovado. 

Cada música é uma pequena maravilha, mas destaco a faixa de abertura, Blue, I’d Run Away, Real Light e Bad Time. São canções simplesmente perfeitas, de uma espécie rara que não enferruja nunca.

Se eles tivessem gravado apenas essas quatro músicas, já mereceriam um lugar especial no panteão do moderno rock americano.




quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Gentle Spirit

Jonathan Wilson tem uma respeitável carreira como produtor e compositor, mas ninguém poderia esperar que seu trabalho como artista solo fosse tão magnificamente elaborado.

Gentle Spirit tem 13 canções que se estendem por mais de uma hora. Cada mínimo detalhe parece ter sido pensado por Wilson para impressionar. 

A inspiração mais evidente vem do soft rock do final da década de 60, início dos 70. Crosby, Stills & Nash, Neil Young, Joni Mitchel estão presentes nas atmosferas acústicas, nos arranjos orquestrados e nas letras que falam de uma Califórnia bucólica e idealizada.

Mas há ecos também de artistas contemporâneos com Cowboy Junkies, Elliott Smith e The Jayhawks.

Não é um disco para se amar de imediato. Exige tempo, concentração e dedicação – coisas cada vez mais raras nesses tempos de quinhentas mil informações por minuto. 

Para quem se dá a chance, no entanto, a recompensa é de primeira.




terça-feira, 6 de novembro de 2012

Harlan County

Quando Harlan County foi lançado nos idos de 1969, a recepção tanto da crítica quanto do público foi gélida. O disco, assim como seu autor, rapidamente caiu no esquecimento.

Um desses crimes que a história reserva para certos artistas. Jim Ford hoje é louvado como um dos criadores do country funk, uma revisão da música caipira americana com um molejo mais black.

Seja qual for o rótulo – country, funk ou soul -, o fato é que o único LP gravado por Ford é uma pérola.

Em pouco menos de 30 minutos, ele exibe sua voz vigorosa e um talento raro para canções que instantaneamente grudam na memória.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Bloom

Bloom é o quarto álbum do duo americano Beach House. O som inclassificável de Victoria Legrand e Alex Scally já foi definido pela imprensa gringa como dream pop, ambient, shoegaze, new psychedelic etc.

 Há elementos, realmente, de cada um desses estilos na estética da dupla, mas a rigor o que eles fazem é bastante singular. Talvez pela voz inconfundível de Legrand, talvez pelos arranjos viajantes, lentos e detalhistas do guitarrista Scally. 

Pode-se dizer que todos os discos do Beach House são uma repetição do anterior. Nesse sentido, continuo gostando mais de Devotion, o segundo, e que foi minha introdução ao universo do grupo. 

 Bloom dá seguimento à sonoridade mais expansiva e pop de Teen Dream, o disco anterior, e é também muito bonito e agradável. 

Só acho que a fórmula está começando a enjoar. Renovação num futuro bem próximo seria bastante bem vinda.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Raising Sand

A propósito da recente passagem de Robert Plant, o deus viking do rock, por Brasília, o único desapontamento de um show simplesmente memorável foi o fato de Plant deixar de fora todo o repertório de seus dois últimos discos solo. De certa forma eu até entendo, já que tanto Raising Sand, gravado em companhia da cantora Alison Krauss, e Band Of Joy são discos de uma musicalidade esparsa e lenta, um tipo de americana cósmica que não cabe muito numa arena.

 De qualquer maneira, a importância desses dois trabalhos não só para a carreira recente de Plant quanto para o mundo do rock em geral é significativo. 

Quando se juntou com Krauss, ninguém podia imaginar o que viria. O site da Amazon, em resenha sobre a colaboração, chegou a comparar o par de músicos a “um duo de fantasia que junta King Kong com Bambi”. Não é para tanto. Nem Robert Plant canta mais com a potência e a visceralidade de sua época de ouro, nem Krauss é uma cantora tão frágil assim.

 A inspiração e a força que cada um encontrou no estilo do outro é que faz de Raising Sand uma obra-prima. A voz cristalina de Alison Krauss pontua com perfeição a rouquidão e a pegada mais blues de Plant.

Com produção esmerada de T-Bone Burnett – para muitos, peça fundamental no sucesso do álbum - , Raising Sand excedeu todas as expectativas e se tornou um papa prêmios e um Best Seller inesperado para ambos os artistas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Tago Mago

De todos os estilos surgidos nos efervescentes anos 1970, o chamado Krautrock foi um dos mais interessantes. 

Basicamente um amálgama de tudo que rolava de mais criativo e experimental na Alemanha, a partir do final dos 60, o Krautrock é usado para classificar bandas tão diferentes entre si como o Kraftwerk e o Amon Düll. Em comum, todas elas possuíam um imenso desejo de fazer música moderna, livre das amarras sócio-culturais da Alemanha do pós-guerra. 

O Can é o meu preferido entre esses grupos. Sobretudo quando contava com o vocalista Damo Suzuki, um anti-cantor que costurava as viagens sonoras de seus companheiros com gemidos, sussuros, gritos e tudo mais que lhe passasse pela cabeça. Fico pensando se o cara chegava a escrever uma letra antes de ir para o estúdio ou se inventava tudo na hora, tamanha é a sensação de improvisação de suas performances. 

Tago Mago é o disco síntese da fase inicial do grupo, antes de Suzuki se tornar testemunha de Jeová e abandonar o mundo da música. Não é um disco fácil, principalmente no que era originalmente o segundo vinil. Há horas em que parecemos mergulhados numa trilha sonora de filme de horror, com os gritos de Suzuki nos remetendo a uma sessão de magia negra. As canções são longuíssimas, algumas beirando os 20 minutos. É música realmente de outra estratosfera, feita por pessoas envolvidas no que havia de mais arrojado e vanguardista na época. 

Não à toa, o Can influenciaria toda a geração punk e pós punk que despontaria alguns anos após o lançamento desse disco estranhamente belo e hermético.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Yellow & Green

Nunca fui um grande fã de heavy metal. Música muito pesada, barulhenta e gritada não é minha praia. Entretanto, vez ou outra, surgem coisas bem interessantes dentro desse gênero que desperta amor e ódio em iguais doses.

Como o Baroness, grupo surgido na cidade de Savannah, na Geórgia, e que já está em seu terceiro LP, Yellow & Green. 

Ao longo de 18 faixas espalhadas por dois discos, o grupo constrói um épico de peso, melodia e energia que raras vezes derrapa no exagero ou no mau gosto tão comuns no metal.

Não é tão brilhante como os melhores momentos do Queens Of The Stone Age – o melhor grupo de rock pesado surgido nos últimos tempos - mas, com a ambição e o talento mostrados nesse ótimo álbum duplo, dá para ver que eles vão longe. Ah, a arte da capa e do encarte é dez.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Okonokos

O My Morning Jacket está na estrada há mais de dez anos e há quem diga que não existe banda mais empolgante em cima de um palco. Enquanto eles não vêm por aqui pra gente conferir, vale curtir o impressionante álbum duplo Okonokos, da turnê de promoção do disco Z.

O vocalista extraordinaire Jim James comanda as longas improvisações que transformam cada faixa num pequeno épico. Mas tudo tocado com energia e raiva dignas da melhor banda punk.

O último trabalho de estúdio, Circuital, é do cacete também.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Queen II

De todos os discos que eu ouvi quando tinha entre 10 e 15 anos - e, me acreditem, não foram muitos - nenhum foi tão impactante para minha cabeça de garoto quanto o segundo disco de estúdio do Queen.

O nome deste blog é não apenas uma homenagem ao meu disco favorito - The Queen Is Dead, dos Smiths - como também, por vias tortas eu sei, a um dos maiores grupos de rock que já passaram por esse mundo.

O Queen em todo seu exagero cênico era um tributo ao talento absurdo de seu frontman, Freddie Mercury, uma figura capaz de juntar a dramaticidade heróica da ópera com o esporro juvenil do rock.

Muita gente acha ridículo, mas grande parte dos melhores momentos da história do rock é mesmo bem ridícula - pense em Gene Simmons do Kiss vomitando sangue falso e Alice Cooper sendo "decapitado" no palco.

O ápice do Queen é normalmente creditado ao álbum A Night At The Opera, que é, sem dúvida, um discaço.

Mas Queen II  é mais complexo, mais misterioso, seja por sua capa dupla com a icônica foto negra na capa e a branca na parte interna - coisas de quem viveu e amou discos de vinil - seja pela sequência de músicas que se dividem entre o lado mais roqueiro de Brian May e Roger Taylor no Lado A e as viagens operísticas de Mercury no B.

É daqueles discos feitos por músicos de primeiro classe, bem produzido, ambicioso e pomposo. Tudo como pediam os loucos anos 1970. Para mim, simplesmente mágico.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Station To Station

O jornalista e crítico da Folha, André Barcinski, traz em seu blog Uma Confraria de Tolos - o meu preferido atualmente - uma postagem sobre o sumiço do inigualável David Bowie e as especulações a respeito das possíveis razões para esse recolhimento precoce.

Como todo grande fã de Bowie - e acho que não existe nenhum artista que eu tenha ouvido, admirado e amado tanto quanto Bowie - eu sinto muito sua falta.

 Ao contrário de muitos medalhões de sua geração, Bowie nunca despencou criativamente ( a bem da verdade, aquele disco de meados da década de 1980, Never Let Me Down, é podre de ruim) e seus últimos trabalhos - Reality, Heathen e Hours - são muito bons, discos maduros que não soam boçais.

Nunca consigo determinar qual meu Bowie preferido. Há tantas coisas boas em todas as suas fases que reduzir-se a apenas uma obra é tarefa quase impossível. De tempos em tempos me pego ouvindo mais uns que outros.

Hunky Dory e Aladin Sane são perfeitos, exóticos, melodramáticos e espertos em sua estrutura pop.
The Rise And Fall Of Ziggy Stardust é uma clássico absoluto, um disco que pode se gabar facilmente de ser um divisor de águas. E a trilogia de Berlim - Low, Heroes e Lodger - são discos de vanguarda, verdadeiras obras de arte.

Entre tantas pérolas, um forte candidato a obra-prima absoluta é Station To Station, um disco de transição entre a fase americana e a eletrônica dos discos alemães.

São apenas seis músicas. A faixa título tem mais de dez minutos e não cansa em momento algum. Há duas baladonas de arrancar lágrimas (World On A Wing e Wild Is The Wind), uma faixa originalmente composta para Elvis Presley (Golden Years) e dois rocks que até hoje arrasariam em qualquer show do Camaleão - TV15 e Stay.

Se Bowie resolveu se aposentar de vez o azar é só nosso. Que ele curta sua merecida vadiagem.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Red

O King Crimson é uma banda inclassificável. E como toda banda que dasafia rótulos, o Crimson é fascinante.

 Dizer que Robert Fripp e cia fazem rock progressivo é o caminho mais fácil. Mas também o mais enganador.

A viagem dessa banda inglesa é totalmente única e não há gênero - jazz, metal, folk e o diabo a quatro - que não passe por seu caldeirão sonoro.

Dos grandes discos lançados pelo King Crimson na década de 1970 o meu preferido é Red, de 1974.

A esquizofrenia musical que joga pelos ares a tradicional estrutura da música pop pode parecer a princípio muito experimental. Mas é só questão de tempo. Na terceira audição do disco a gente já se pega completamente embevecido.

Do insustentável peso de cada uma das canções de Red brota uma beleza única. É rock sério e quase matemático em sua perfeição. Discoteca pra lá de básica...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Tim Maia Racional Volume 1
 
Verdadeira bíblia para amantes do rock e da música pop, a revista inglesa Uncut traz em sua última edição uma resenha sobre um disco do nosso Tim Maia, recentemente lançada no Hemisfério Norte.

A revista ainda dedica um pequeno box com rápidos dados autobiográficos sobre o fabuloso síndico da MPB, destacando inclusive o rápido envolvimento de Tim com a seita Universo em Desencanto.

Aliás , os discos gravados por Tim durante esse período são das coisas mais bizarras já lançadas em terras tupiniquins. Não que sejam ruins. Pelo contrário: Tim estava livre dos habituais excessos químicos e sua voz nunca foi tão belamente registrada.

Além disso, os arranjos são puro funk-soul brasileiro de altíssima qualidade. O problema é a pregação do convertido Tim. Haja “leia o livro Universo em Desencanto” e “imunização racional” buzinando em nossos ouvidos.

Abstraindo das baboseiras que depois o próprio Tim renegaria, são discos fantásticos. Um tanto bizarros, mas fantásticos.