quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Bloom

Bloom é o quarto álbum do duo americano Beach House. O som inclassificável de Victoria Legrand e Alex Scally já foi definido pela imprensa gringa como dream pop, ambient, shoegaze, new psychedelic etc.

 Há elementos, realmente, de cada um desses estilos na estética da dupla, mas a rigor o que eles fazem é bastante singular. Talvez pela voz inconfundível de Legrand, talvez pelos arranjos viajantes, lentos e detalhistas do guitarrista Scally. 

Pode-se dizer que todos os discos do Beach House são uma repetição do anterior. Nesse sentido, continuo gostando mais de Devotion, o segundo, e que foi minha introdução ao universo do grupo. 

 Bloom dá seguimento à sonoridade mais expansiva e pop de Teen Dream, o disco anterior, e é também muito bonito e agradável. 

Só acho que a fórmula está começando a enjoar. Renovação num futuro bem próximo seria bastante bem vinda.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Raising Sand

A propósito da recente passagem de Robert Plant, o deus viking do rock, por Brasília, o único desapontamento de um show simplesmente memorável foi o fato de Plant deixar de fora todo o repertório de seus dois últimos discos solo. De certa forma eu até entendo, já que tanto Raising Sand, gravado em companhia da cantora Alison Krauss, e Band Of Joy são discos de uma musicalidade esparsa e lenta, um tipo de americana cósmica que não cabe muito numa arena.

 De qualquer maneira, a importância desses dois trabalhos não só para a carreira recente de Plant quanto para o mundo do rock em geral é significativo. 

Quando se juntou com Krauss, ninguém podia imaginar o que viria. O site da Amazon, em resenha sobre a colaboração, chegou a comparar o par de músicos a “um duo de fantasia que junta King Kong com Bambi”. Não é para tanto. Nem Robert Plant canta mais com a potência e a visceralidade de sua época de ouro, nem Krauss é uma cantora tão frágil assim.

 A inspiração e a força que cada um encontrou no estilo do outro é que faz de Raising Sand uma obra-prima. A voz cristalina de Alison Krauss pontua com perfeição a rouquidão e a pegada mais blues de Plant.

Com produção esmerada de T-Bone Burnett – para muitos, peça fundamental no sucesso do álbum - , Raising Sand excedeu todas as expectativas e se tornou um papa prêmios e um Best Seller inesperado para ambos os artistas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Tago Mago

De todos os estilos surgidos nos efervescentes anos 1970, o chamado Krautrock foi um dos mais interessantes. 

Basicamente um amálgama de tudo que rolava de mais criativo e experimental na Alemanha, a partir do final dos 60, o Krautrock é usado para classificar bandas tão diferentes entre si como o Kraftwerk e o Amon Düll. Em comum, todas elas possuíam um imenso desejo de fazer música moderna, livre das amarras sócio-culturais da Alemanha do pós-guerra. 

O Can é o meu preferido entre esses grupos. Sobretudo quando contava com o vocalista Damo Suzuki, um anti-cantor que costurava as viagens sonoras de seus companheiros com gemidos, sussuros, gritos e tudo mais que lhe passasse pela cabeça. Fico pensando se o cara chegava a escrever uma letra antes de ir para o estúdio ou se inventava tudo na hora, tamanha é a sensação de improvisação de suas performances. 

Tago Mago é o disco síntese da fase inicial do grupo, antes de Suzuki se tornar testemunha de Jeová e abandonar o mundo da música. Não é um disco fácil, principalmente no que era originalmente o segundo vinil. Há horas em que parecemos mergulhados numa trilha sonora de filme de horror, com os gritos de Suzuki nos remetendo a uma sessão de magia negra. As canções são longuíssimas, algumas beirando os 20 minutos. É música realmente de outra estratosfera, feita por pessoas envolvidas no que havia de mais arrojado e vanguardista na época. 

Não à toa, o Can influenciaria toda a geração punk e pós punk que despontaria alguns anos após o lançamento desse disco estranhamente belo e hermético.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Yellow & Green

Nunca fui um grande fã de heavy metal. Música muito pesada, barulhenta e gritada não é minha praia. Entretanto, vez ou outra, surgem coisas bem interessantes dentro desse gênero que desperta amor e ódio em iguais doses.

Como o Baroness, grupo surgido na cidade de Savannah, na Geórgia, e que já está em seu terceiro LP, Yellow & Green. 

Ao longo de 18 faixas espalhadas por dois discos, o grupo constrói um épico de peso, melodia e energia que raras vezes derrapa no exagero ou no mau gosto tão comuns no metal.

Não é tão brilhante como os melhores momentos do Queens Of The Stone Age – o melhor grupo de rock pesado surgido nos últimos tempos - mas, com a ambição e o talento mostrados nesse ótimo álbum duplo, dá para ver que eles vão longe. Ah, a arte da capa e do encarte é dez.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Okonokos

O My Morning Jacket está na estrada há mais de dez anos e há quem diga que não existe banda mais empolgante em cima de um palco. Enquanto eles não vêm por aqui pra gente conferir, vale curtir o impressionante álbum duplo Okonokos, da turnê de promoção do disco Z.

O vocalista extraordinaire Jim James comanda as longas improvisações que transformam cada faixa num pequeno épico. Mas tudo tocado com energia e raiva dignas da melhor banda punk.

O último trabalho de estúdio, Circuital, é do cacete também.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Queen II

De todos os discos que eu ouvi quando tinha entre 10 e 15 anos - e, me acreditem, não foram muitos - nenhum foi tão impactante para minha cabeça de garoto quanto o segundo disco de estúdio do Queen.

O nome deste blog é não apenas uma homenagem ao meu disco favorito - The Queen Is Dead, dos Smiths - como também, por vias tortas eu sei, a um dos maiores grupos de rock que já passaram por esse mundo.

O Queen em todo seu exagero cênico era um tributo ao talento absurdo de seu frontman, Freddie Mercury, uma figura capaz de juntar a dramaticidade heróica da ópera com o esporro juvenil do rock.

Muita gente acha ridículo, mas grande parte dos melhores momentos da história do rock é mesmo bem ridícula - pense em Gene Simmons do Kiss vomitando sangue falso e Alice Cooper sendo "decapitado" no palco.

O ápice do Queen é normalmente creditado ao álbum A Night At The Opera, que é, sem dúvida, um discaço.

Mas Queen II  é mais complexo, mais misterioso, seja por sua capa dupla com a icônica foto negra na capa e a branca na parte interna - coisas de quem viveu e amou discos de vinil - seja pela sequência de músicas que se dividem entre o lado mais roqueiro de Brian May e Roger Taylor no Lado A e as viagens operísticas de Mercury no B.

É daqueles discos feitos por músicos de primeiro classe, bem produzido, ambicioso e pomposo. Tudo como pediam os loucos anos 1970. Para mim, simplesmente mágico.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Station To Station

O jornalista e crítico da Folha, André Barcinski, traz em seu blog Uma Confraria de Tolos - o meu preferido atualmente - uma postagem sobre o sumiço do inigualável David Bowie e as especulações a respeito das possíveis razões para esse recolhimento precoce.

Como todo grande fã de Bowie - e acho que não existe nenhum artista que eu tenha ouvido, admirado e amado tanto quanto Bowie - eu sinto muito sua falta.

 Ao contrário de muitos medalhões de sua geração, Bowie nunca despencou criativamente ( a bem da verdade, aquele disco de meados da década de 1980, Never Let Me Down, é podre de ruim) e seus últimos trabalhos - Reality, Heathen e Hours - são muito bons, discos maduros que não soam boçais.

Nunca consigo determinar qual meu Bowie preferido. Há tantas coisas boas em todas as suas fases que reduzir-se a apenas uma obra é tarefa quase impossível. De tempos em tempos me pego ouvindo mais uns que outros.

Hunky Dory e Aladin Sane são perfeitos, exóticos, melodramáticos e espertos em sua estrutura pop.
The Rise And Fall Of Ziggy Stardust é uma clássico absoluto, um disco que pode se gabar facilmente de ser um divisor de águas. E a trilogia de Berlim - Low, Heroes e Lodger - são discos de vanguarda, verdadeiras obras de arte.

Entre tantas pérolas, um forte candidato a obra-prima absoluta é Station To Station, um disco de transição entre a fase americana e a eletrônica dos discos alemães.

São apenas seis músicas. A faixa título tem mais de dez minutos e não cansa em momento algum. Há duas baladonas de arrancar lágrimas (World On A Wing e Wild Is The Wind), uma faixa originalmente composta para Elvis Presley (Golden Years) e dois rocks que até hoje arrasariam em qualquer show do Camaleão - TV15 e Stay.

Se Bowie resolveu se aposentar de vez o azar é só nosso. Que ele curta sua merecida vadiagem.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Red

O King Crimson é uma banda inclassificável. E como toda banda que dasafia rótulos, o Crimson é fascinante.

 Dizer que Robert Fripp e cia fazem rock progressivo é o caminho mais fácil. Mas também o mais enganador.

A viagem dessa banda inglesa é totalmente única e não há gênero - jazz, metal, folk e o diabo a quatro - que não passe por seu caldeirão sonoro.

Dos grandes discos lançados pelo King Crimson na década de 1970 o meu preferido é Red, de 1974.

A esquizofrenia musical que joga pelos ares a tradicional estrutura da música pop pode parecer a princípio muito experimental. Mas é só questão de tempo. Na terceira audição do disco a gente já se pega completamente embevecido.

Do insustentável peso de cada uma das canções de Red brota uma beleza única. É rock sério e quase matemático em sua perfeição. Discoteca pra lá de básica...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Tim Maia Racional Volume 1
 
Verdadeira bíblia para amantes do rock e da música pop, a revista inglesa Uncut traz em sua última edição uma resenha sobre um disco do nosso Tim Maia, recentemente lançada no Hemisfério Norte.

A revista ainda dedica um pequeno box com rápidos dados autobiográficos sobre o fabuloso síndico da MPB, destacando inclusive o rápido envolvimento de Tim com a seita Universo em Desencanto.

Aliás , os discos gravados por Tim durante esse período são das coisas mais bizarras já lançadas em terras tupiniquins. Não que sejam ruins. Pelo contrário: Tim estava livre dos habituais excessos químicos e sua voz nunca foi tão belamente registrada.

Além disso, os arranjos são puro funk-soul brasileiro de altíssima qualidade. O problema é a pregação do convertido Tim. Haja “leia o livro Universo em Desencanto” e “imunização racional” buzinando em nossos ouvidos.

Abstraindo das baboseiras que depois o próprio Tim renegaria, são discos fantásticos. Um tanto bizarros, mas fantásticos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Babel

Na minha primeira postagem aqui, disse que os ingleses do Mumford And Sons são meros revisionistas. E são mesmo. Isso porque não há uma única gota de originalidade no som dos moços. Mas, e daí? Isso é uma verdade para, pelo menos, uns 80% da música de hoje em dia. 

O que faz a diferença em relação a Marcus Mumford e seus asseclas – e uma diferença significativa já que o grupo é um fenômeno de vendas nos dois lados do Atlântico – é a dose de entrega e de intensidade que acende o fogo de cada canção.

 Como tudo que faz muito sucesso, o som do Mumford and Sons gera uma grande desconfiança. Besteira. Esta é apenas uma banda apaixonada pelo que faz. E isso já é muita coisa...

Sun

O Cat Power é Chan Marshall. E Chan Marshall pode ser quem ela quiser: atriz, musa fashion, namorada de celebridades hollywoodianas, ícone indie, ou, simplesmente, cantora e compositora.

É claramente essa última faceta que Marshall mostra em seu novo trabalho, Sun. 

Depois do soul-blues de seus últimos discos - o ótimo The Greatest e o não-tão-ótimo-assim, Jukebox - a cantora meio que retomou a musicalidade mais simples e desnuda de seus discos mais antigos.

A novidade é que, no lugar de guitarra e piano, os arranjos agora são dominados por sintetizadores e sons eletrônicos.

Surpreendentemente, o calor a que remete o título do álbum está presente do começo ao fim. Cortesia da voz pequena porém belíssima dessa artista iluminada.

sábado, 13 de outubro de 2012

Mirage Rock

Já faz quase 10 anos que essa banda americana vem me conquistando com seus discos simples, porém riquíssimos em harmonia e melodia. Cada canção do Band Of Horses é uma viagem a uma América ideal, em letra e música. As referências mais óbvias vêm do soft rock americano da década de 1970. Há ecos de Eagles, Bread e America, convivendo com a aspereza do Crazy Horse de Neil Young e o talento pop do Big Star.


Este Mirage Rock é o quarto capítulo na discografia do grupo e, embora seja ligeiramente inferior aos discos anteriores, não há porque ficar triste. Eles poderiam ter ido um pouco além de meramente xerocar seus melhores momentos, mas quando Dumpster World e A Little Biblical saem das caixas de som a gente sente que eles ainda farão um grande disco de rock. É só questão de tempo.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

The Psychadelic Sounds Of The 13TH Floor Elevators

Dos numerosos discos de rock feitos sob o efeito de drogas, o primeiro álbum da banda americana 13th Floor Elevators talvez seja um dos mais célebres. E também um dos menos ouvidos.

 A carreira do grupo do vocalista e compositor Roky Erickson só encontrou o sucesso de público com o single You’re Gonna Miss Me, que, aliás, abre este disco. A partir daí, uma série de desastres comerciais, brigas e o envolvimento cada vez mais pesado de Erikson com drogas tragou o Elevators para o mesmo limbo onde milhares de bandas americanas de garagem passaram a habitar (confira a clássica caixa Nuggets, com quase 100 bandas virtualmente desconhecidas, inclusive o Elevators, que exploraram o lado mais insano e selvagem da psicodelia). 

Certamente, The Psychadelic Sounds Of The 13th Floor Elevators não é nenhuma obra-prima, mas o charme desse tipo de trabalho é justamente parecer com um rascunho, sem maiores acabamentos posteriores.

 De qualquer maneira, é um retrato perfeito de uma época em que estar chapado muitas vezes era compulsório não só para os artistas como também para os fãs.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

So

E assim se passaram 26 anos... Quando Peter Gabriel lançou So, em 1986, ele já era dono de uma respeitável carreira solo, além de ter experimentado imenso sucesso popular a frente do Genesis. Mas So foi um passo gigantesco rumo a uma nova musicalidade, mais pop e acessível.

 Numa época em que a MTV era uma emissora apenas de música, Gabriel revolucionou a linguagem do videoclipe com a genial Sledgehammer, um trabalho que permanece irretocável ainda hoje.

 Mas, para lá do funk dançante de Sledgehammer, o disco todo reserva excelentes surpresas. É daquele tipo de trabalho em que cada faixa é praticamente uma obra-prima. Os arranjos e o desempenho de músicos e convidados são supimpas e, finalmente, o mestre de cerimônias brilha intensamente. 

O que  esperar mais? Como se dizia na minha infância: não se fazem mais discos como antigamente...




Queen Of Denmark

Alguns discos conseguem ser totalmente novos, mesmo não trazendo nenhuma revolução sonora em sua essência. É o caso de Queen Of Denmark, de John Grant. Este cantor e compositor americano tem uma história pessoal repleta de fracassos profissionais, problemas com drogas e uma homossexualidade vivida no limite da autodestruição. O resgate veio por meio do grupo Midlake, que produziu e tocou em todas as faixas desse primeiro solo de Grant.

Envoltas em luxuosos arranjos, as letras falam de maneira às vezes cômicas, às vezes francamente dramáticas, da atribulada vida sentimental de Grant. Tudo cantado com uma ternura e uma voz tão bonita, que é capaz de derreter corações empedernidos. Para mim, o melhor disco dos últimos dez anos. Fácil, fácil...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

The English Riviera

É lamentável o atual estado do pop-rock britânico. Para cada Arctic Monkeys, há uns cem Bombay Bicycle Club. A grande maioria dos grupos se limita a xerocar a fórmula vencida dos Libertines, enquanto outros tentam, sem sucesso, atingir a grandiloqüência emocional de um U2 ou um Coldplay. 

Vez ou outra, entretanto, surgem pequenas maravilhas como este The English Riviera e a gente fica com aquela pequena esperança que a terra dos Beatles e dos Rolling Stones reviva sua época de ouro. 

O disco se inicia com sons de gaivotas e ondas quebrando na praia, nos remetendo a um idílico feriado a beira mar (ao jeito inglês, é claro). A partir daí, o grupo cria uma espécie de nostalgia do futuro, na qual a delicada eletrônica dos arranjos se conjuga ao indie rock de inspiração nitidamente oitentista. Tudo é muito bonito, bucólico e relaxante. Não à toa, o disco foi eleito um dos melhores do ano passado por quase todas as publicações inglesas.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Nação



Clara Nunes foi, para mim, a maior cantora brasileira de sempre. E para minha tristeza, vejo que sua obra anda meio esquecida. Quando se fala das grandes divas da nossa música, somente ouço o nome de Elis, Gal e Bethânia.

 Há quem diga que o problema de Clara é que seu repertório foi muito limitado ao samba. E qual o problema? Além do mais, isso é uma verdade parcial. Em meio aos seus maravilhosos sambas, pintam, aqui e ali, forrós, canções de protesto típicas do anos 1970, boleros e canções de dor-de-cotovelo.


 Nação é seu último trabalho, antes da morte estúpida e prematura, com  40 anos de idade. Além da emblemática canção-tema (de autoria de João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio) há canções de inspiração afro-baiana (Ijexá e Afoxé para Logun), uma homenagem ao Império Serrano (Serrinha) e as tradicionais baladonas (Novo Amor). A lacuna que ela deixou jamais será preenchida.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Charmer



Conheci o trabalho desta cantora e compositora americana no filme Magnólia, de Paul Thomas Anderson. As canções de Mann trazem uma espécie de alívio em meio ao pesadelo de emoções em conflito que é o cerne do filme de Anderson. A partir daquele momento, me tornei fã incondicional do trabalho de A. Mann. Acho que ela é daquele tipo de artista que é boa até quando não acerta plenamente (caso do disco Lost In Space). 

Seu novo trabalho, Charmer, não atinge os picos de beleza da trilha de Magnólia – um feito quase impossível, eu acho – mas mantém a qualidade dos discos anteriores (sobretudo o ótimo The Forgotten Arm). Gosto muito do dueto de Mann com o vocalista do The Shins, James Mercer, em Living a Lie e, principalmente, de Soon Enough, uma canção que se alinha ao que de melhor Aimee fez no passado.

domingo, 7 de outubro de 2012

Port Of Morrow

Donos de uma curta discografia – apenas 3 discos em 10 anos – o The Shins volta após um hiato de 5 anos com este ótimo Port Of Morrow. Tendo o compositor e vocalista James Mercer como único membro permanente desde sua fundação, o The Shins virou uma espécie de baluarte do rock independente americano, um grupo capaz de vender milhões de cópias sem adulterar a essência de sua musicalidade ingênua (infantil?), sincera e, para seus fãs, francamente apaixonante.

 Andei lendo alguns comentários sobre o disco na internet e achei curioso o sentimento de decepção de muitos dos admiradores do grupo. É claro que ficar esperando que Mercer conceba um novo Chutes Too Narrow – o disco de 2003 que é, até agora, sua obra-prima – é uma tremenda besteira. O moço já passou dos quarenta, tá casado, com filhos, tem grana, fama e reconhecimento e é obvio que suas melhores canções nasceram de conflitos e dúvidas típicos da juventude.


 Com isso em mente, dá para curtir – e muito – Port Of Morrow, um disco que cresce a cada nova audição. A segunda metade, sobretudo, reserva excelentes momentos (No Way Down, 40 Mark Strasse e a bela faixa-título, que encerra o álbum). Uma volta que compensou a espera.
                                               

Down By The Jetty



Em meados na década de 1970, no Reino Unido, não havia banda mais incendiária nos palcos que o Dr. Feelgood. Formada na lúgubre Canvey Island, a união entre o guitarrista Wilco Johnson e o vocalista Lee Brilleaux, mais a cozinha concisa formada por John B. Sparks e John Martin (conhecido como The Big Figure), transformou o estuário do rio Tâmisa numa extensão do rio Mississipi, nos Estados Unidos, de onde o grupo tirava inspiração para seu blues rock turbinado.

 Por conta de suas performances intensas, o Dr. Feelgood atraiu não apenas a atenção dos amantes do blues, mas também da nascente cena punk inglesa e americana. Down By Jetty é uma estréia perfeita da primeira à ultima faixa, um daqueles discos que a gente não se cansa de ouvir nunca.
Para entender melhor o que foi o Doctor, uma boa dica é assistir o ótimo documentário Oil City Confidential, dirigido por Julien Temple, que disseca de maneira brilhante a ascensão e queda desse grupo hoje meio esquecido.