sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Results

Acho bobagem se falar em arte gay. Ninguém ressalta a heterossexualidade quando vai falar de um disco, por exemplo, do Allman Brothers. 

Mas não há como negar a identificação entre determinados artistas e a comunidade gay (outro conceito muito aberto, eu sei).

Tome-se o caso de Liza Minnelli. Só por ser filha de Judy Garland, um ícone para gays americanos desde a década de 1940, Liza já teria o carinho e a simpatia de muita gente.

Mas ela fez seu próprio caminho artístico, brilhou nas telas e nos palcos da Broadway e gravou discos que se inscreveram para sempre no imaginário gay.

Results é um marco dos anos 1980 e apresentou Liza para uma geração de novos fãs. Produzido por Neil Tennant e Chris Lowe, mais conhecidos como Pet Shop Boys, o disco é um luxo só.

Musicalmente, é um produto típico do electropop da época (de bandas como Human League, Depeche Mode e os próprios Pet Shop Boys). O grande diferencial está realmente na voz aveludada e sensual de LM.

Ela dá novas cores para canções alheias – Twist In My Sobriety de Tanita Tikaran e Rent do Pet Shop –, traz a certeira dose de melodrama em Tonight Is Forever e I Want You Now e ainda perpetra dois clássicos para as pistas de dança, Losing My Mind e Love Pains

Tudo é realmente de primeira, mas a grande verdade é que qualquer canção vira um deleite nas mãos - ou cordas vocais – da diva de Cabaré.

 Uma pena que ela não tenha seguido em frente na parceria com músicos e admiradores mais jovens.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Anastasis

Após 16 anos de silêncio, o duo Dead Can Dance retorna com mais uma de suas viagens sonoras, o belo Anastasis – grego para ressurreição.

Quem gosta de Cocteau Twins vai encontrar no Dead Can Dance um primo distante, principalmente pelos vocais etéreos e misteriosos da cantora Lisa Gerrard. 

São apenas oito longas e exaustivamente trabalhadas canções. Parece pouco para justificar uma ausência tão grande.

Mas é um típico trabalho com a marca Dead Can Dance, ou seja, há elementos de música oriental, instrumentos exóticos, vocais que parecem saídos de um passado muito longínquo e um clima meio gótico perpassando todo o álbum.

 Não é para todos, isso é certo. Quem gosta, contudo, vai vibrar.




quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Document


Quando uma grande banda resolve se retirar, muita gente fica inconsolável. Eu, particularmente, acho uma arte para poucos saber o momento certo de dizer adeus. Melhor se aposentar com dignidade que cair no ridículo. 

Deve ter sido o que pensou o R.E.M. quando anunciou sua saída de cena no ano passado. Os últimos discos do grupo já não eram aquela beleza que um dia foram, mas eles nunca chegaram a pisar feio na bola.

 O melhor do R.E.M. se encontra na produção dos anos 80, quando gravaram pela independente I.R.S., mas há canções inesquecíveis em todos os trabalhos subseqüentes. 

Os discos a seguir são os meus cinco preferidos dessa grande banda americana.


1 – Document (1987): o disco que rompeu a barreira entre o underground e o grande público. Um clássico absoluto.


2 – Lifes Reach Pageant (1986): trabalho de transição, com o grupo aprimorando suas habilidades pop e preparando a grande invasão que viria a seguir.


3 – Automatic For The People (1992): só por ter Everybody Hurts este disco já merece lugar de destaque em qualquer coleção. Tão bom que o próprio grupo teria dificuldade em fazer novamente música com essa relevância.


4 – Green (1988): o primeiro disco lançado por uma grande gravadora, é um trabalho que casa as raízes folk e roqueiras do R.E.M. em grande estilo.


5 – Out Of Time (1991): é aqui que eles se tornaram realmente gigantes. Culpa de Losing My Religion, uma canção capaz de tocar em rádios alternativas e nas Antenas Um da vida. A melhor música, no entanto, é a fantástica Country Feedback, uma das preferidas do vocalista Michael Stipe.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Verdade Uma Ilusão

Gosto muito de Marisa Monte. Mas não pelos motivos pelos quais a maioria das pessoas gosta.

Não acho que ela seja uma “diva” e nem mesmo acho que ela pode ser equiparada às grandes vozes femininas de nossa música.

Para mim o grande encanto de Marisa está justamente em sua postura anti-diva e, sobretudo, em sua habilidade ímpar de fazer música popular sem ofender nossa já tão atacada sensibilidade. Principalmente depois que deixou de emular a Gal Costa da década de 1970, MM passou a fazer uma música romântica que milagrosamente escapa da breguice.

De certa forma, ela faz hoje o que Roberto Carlos fazia nos anos 70. É por isso que suas canções aparecem de forma tão confortável em trilhas sonoras de novelas e em rádios populares. Seu mais recente disco, O Que Você Quer Saber de Verdade, é o melhor exemplo disso.

Não à toa, muita gente achou que MM “embregou” de vez. Não à toa, duas das músicas enfeitaram cenas românticas em folhetins globais. E não à toa, também, o disco faz muito sucesso em meu cd player.

O show que o divulga é supimpa, uma beleza não apenas musical, mas um espetáculo visual belíssimo, em que projeções iluminam cada canção e que, com certeza, deve render um DVD num futuro próximo.

Se esse é o caminho que Marisa seguirá, é difícil prever. Depois de tribalismos, sambas e divinas cafonices, só dá para dizer que essa mulher é um presente dos céus.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Horses
 
Há 30 anos, a Sony colocava no mercado os primeiros CDs para venda direta ao consumidor. O objeto de plástico brilhante foi alvo ao longo desses trinta anos de furiosas reações por parte de puristas, mas acabou se estabelecendo como a mídia principal de comercialização de música. Em seu período áureo, o CD chegou à assustadora soma de quase um bilhão de unidades vendidas em todo o mundo.

Comprei meu primeiro CD player em 1994 e me lembro até hoje da minha primeira aquisição. Existia aqui em Brasília uma rede de lojas chamada Cash Box e uma delas ficava bem próxima do meu trabalho.

Foi lá que comprei Horses, da Patti Smith,  Dirty, do Sonic Youth, Kiss This, do Sex Pistols e Us, do Peter Gabriel, todos no mesmo dia. O preço do CD ainda era relativamente alto e os discos de vinil ainda eram produzidos regularmente. Em pouco menos de um ano, eles, literalmente, desapareceriam das prateleiras e o CD passaria a ser a única opção para se ouvir música nova (pelo menos aqui no Brasil. Na Europa e nos Estados Unidos a produção de vinil nunca foi totalmente abandonada).

É curioso observar que, nestes trinta anos, o CD cumpriu um ciclo rápido de apogeu e decadência. É curioso pensar também que o vinil, que muitos deram por morto e enterrado, seja hoje visto como a única possível salvação para colecionadores e aficionados. O futuro é incerto, sem dúvida. Não vejo, entretanto, como desaparecer por completo o meio físico. Sempre existirá gente que necessita do objeto, do contato físico com a obra. É a mesma sombra que paira sobre o livro de papel, gradativamente substituído por leitores digitais cada vez mais sofisticados.


O fato é que aqueles quatro discos que inauguram minha coleção de bolachinhas prateadas continuam passando, vez ou outra, pelo meu aparelho de som. Acho o mesmo difícil para quem adquire ou baixa um disco digitalmente. Fico pensando até se essas pessoas se lembram do que ouviram no dia anterior.

Algiers

É incrível que uma banda tão interessante quanto o Calexico tenha tão pouco reconhecimento. Já são mais de 20 anos de carreira e nenhum disco ruim. 

O mais recente, Algiers, honra o nome do grupo, embora não acrescente nada de rigorosamente novo a seu caldeirão sonoro. Ainda bem. 

O Calexico (o nome vem de uma cidadezinha na fronteira dos Estados Unidos com o México) segue fazendo o que sabe: indie rock com um toque de música latina, alguns experimentos com gêneros alheios ao universo da música pop – fado, canção francesa, jazz, entre outros - e a sutil melancolia das composições de Joe Burns e Joey Convertino.




terça-feira, 13 de novembro de 2012

Coexist

Tenho certa dificuldade em entender o barulho em torno de algumas bandas novas. Pegue-se, por exemplo, o The XX, trio formado em 2008 na cidade de Londres. O primeiro trabalho, lançado em 2009, figurou em várias listas de melhores do ano e revelou para o mundo três jovens tímidos e levemente misteriosos. 

Agora, já mais acostumados com o novo status de celebridades, o trio retorna com Coexist.

Musicalmente, pouco mudou. Os vocalistas Romy Madley Croft e Oliver Sim dificilmente podem ser chamados de cantores. Eles murmuram suas letras como se estivessem permanentemente dopados. Os arranjos permanecem esparsos, quase inexistentes (o chique é dizer que isso é minimalista). O tédio percorre o disco do início ao fim. 

Na verdade, deve ser isso que traz tamanho encanto. Numa época de tanta exposição e exagero público, a postura reservada e distante do XX chama a atenção. Nesse aspecto, eu até que simpatizo com eles. Mas gostar de sua música, já é outra história...




segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Teenage Head

É difícil entender porque alguns discos passam completamente em branco pela história da música pop.

É o caso de Teenage Head da banda americana Flamin’ Groovies. Lançado originalmente em 1971, o disco pode ser comparado facilmente aos melhores momentos dos Stones ou do Dr. Feelgood. A fonte de onde todos bebem é o blues elétrico de gigantes como Muddy Waters e Howlin Wolf.

Em Teenage Head nenhum segundo é desperdiçado. Os Groovies vão direto ao ponto em rocks sensacionais como Have You Seen My Baby e High Flying Baby, mas são craques também em baladas matadoras como Yesterday Numbers e Whiskey Woman

Para quem é fã de blues rock com muita sujeira e energia, este é um disco simplesmente imprescindível.




domingo, 11 de novembro de 2012

The Lion's Roar

As irmãs Johanna e Klara são suecas, mas pelo que mostram em seu segundo disco, The Lion’s Roar, é como se tivessem nascido e se criado no interior dos Estados Unidos.

Com o primeiro disco, lançado em 2010, as garotas chamaram a atenção não apenas da crítica especializada, como também de importantes músicos contemporâneos.

The Lion’s Roar é produzido por Mike Mogis – famoso por seus trabalhos com o Bright Eyes e Monsters Of Folk –, que explora com habilidade a capacidade das irmãs de criarem belas melodias.

 O clima é pastoral e nos remete imediatamente ao country rock de Emmylou Harris, Gene Clark e The Byrds.

Ainda falta ao First Aid Kit encontrar sua verdadeira personalidade, mas, enquanto isso, elas vão encantando com sua doce musicalidade.




sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Purple Rain

Quando Purple Rain, o filme, foi lançado em 1984 eu tinha entre 13 e 14 anos e não o vi no cinema. Mas não fiquei imune ao que se poderia chamar de princemania.

Aquele ano foi inteiramente de Prince, que viu sua estreia no cinema render horrores enquanto a trilha sonora homônima vendia como água.

Acabei assistindo o filme na televisão aberta, com cortes, dublagem, propagandas e tudo mais. Detestei, obviamente.

Recentemente, revi Purple Rain num dos canais HBO sem saber direito o que esperar, afinal a memória nos prega muitas peças. Confesso que, como num filme da Boca do Lixo, achei tudo tão ruim que acabei gostando.

Figurino, maquiagem, penteados, atuações, tudo é tão absurdo que se torna impagável. A estrela Prince passa todo o tempo com cara de vítima enquanto um desfile de figuras inacreditáveis entregam performances surreais de tão horríveis.

O filme só engrena mesmo nas cenas de palco. Purple Rain, o disco, é uma das obras-primas do gênio de Minneapolis e, embora a historinha que elas contam seja meia-boca total, o desempenho do baixinho e sua banda da época, a Revolution, é de deixar qualquer um de queixo caído.

Na sequência Prince gravaria uma das músicas do século, Kiss, além de mais três discos impecáveis: Sign' O The Times, Lovesex e Diamonds And Pearls.

Depois, ele pirou na batatinha, brigou com a gravadora, trocou o nome por um símbolo e seguiu gravando discos cada vez mais fraquinhos. Mas isso já é outra história.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Tomorrow The Green Grass

O Jayhawks é uma banda que sempre nadou contra a corrente.

Em pleno anos 1990, quando as guitarras sujas do Nirvana e do Pearl Jam dominavam as paradas, o grupo de Mark Olson e Gary Louris preferiu fazer um rock mais tradicional, recuperando boa parte da herança rural da música americana e entregando ao público discos primorosos que, anos depois, influenciariam numerosos novos artistas.

Tomorrow The Green Grass é, para mim, o melhor disco que eles gravaram. É também um dos meus discos preferidos, daqueles que ouço sempre com um prazer renovado. 

Cada música é uma pequena maravilha, mas destaco a faixa de abertura, Blue, I’d Run Away, Real Light e Bad Time. São canções simplesmente perfeitas, de uma espécie rara que não enferruja nunca.

Se eles tivessem gravado apenas essas quatro músicas, já mereceriam um lugar especial no panteão do moderno rock americano.




quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Gentle Spirit

Jonathan Wilson tem uma respeitável carreira como produtor e compositor, mas ninguém poderia esperar que seu trabalho como artista solo fosse tão magnificamente elaborado.

Gentle Spirit tem 13 canções que se estendem por mais de uma hora. Cada mínimo detalhe parece ter sido pensado por Wilson para impressionar. 

A inspiração mais evidente vem do soft rock do final da década de 60, início dos 70. Crosby, Stills & Nash, Neil Young, Joni Mitchel estão presentes nas atmosferas acústicas, nos arranjos orquestrados e nas letras que falam de uma Califórnia bucólica e idealizada.

Mas há ecos também de artistas contemporâneos com Cowboy Junkies, Elliott Smith e The Jayhawks.

Não é um disco para se amar de imediato. Exige tempo, concentração e dedicação – coisas cada vez mais raras nesses tempos de quinhentas mil informações por minuto. 

Para quem se dá a chance, no entanto, a recompensa é de primeira.




terça-feira, 6 de novembro de 2012

Harlan County

Quando Harlan County foi lançado nos idos de 1969, a recepção tanto da crítica quanto do público foi gélida. O disco, assim como seu autor, rapidamente caiu no esquecimento.

Um desses crimes que a história reserva para certos artistas. Jim Ford hoje é louvado como um dos criadores do country funk, uma revisão da música caipira americana com um molejo mais black.

Seja qual for o rótulo – country, funk ou soul -, o fato é que o único LP gravado por Ford é uma pérola.

Em pouco menos de 30 minutos, ele exibe sua voz vigorosa e um talento raro para canções que instantaneamente grudam na memória.